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Nomofobia
De acordo com os dados do relatório 2018 Global Digital” da We Are Social, o Brasil é o segundo país que mais está conectado no celular, com o tempo médio de 3 horas e 39 minutos diários.
Prejuízos na vida social e no trabalho devido ao uso excessivo da internet, aumento do tempo conectado, esforços empreendidos sem resultado para diminuir esse tempo, além de possibilidade de apresentação de irritabilidade e/ou depressão na privação do uso - esses são alguns critérios de diagnóstico para dependência de internet. Ainda não há um padrão que defina as características dos dependentes, mas alguns tipos de comportamentos começam a ser comuns, como: o uso compulsivo da internet, uma preocupação constante em estar on-line, mentir ou esconder a
extensão ou a natureza do seu comportamento e uma incapacidade de controlar ou reduzir a quantidade de tempo que passa conectado.
Nomofobia: este tem sido o termo utilizado para designar o desconforto ou angústia causados pelo medo de ficar incomunicável ou pela impossibilidade de comunicação por intermédio do telefone celular, computador ou internet (ficar off-line)¹.
O uso demasiado da interatividade digital pode gerar a criação de pânico, hiperatividade, aumento da ansiedade, porque você não percebe que de repente você está envolto em uma massa de informação e subconscientemente aquilo te perturba. Você não sabe por que quer fazer tudo com pressa e se acostuma a essa carga tão grande, que a ausência dela nos faz ter a percepção de falta.
Uso normal x uso disfuncional
O diagnóstico da dependência de internet apresenta limitações, especialmente na diferenciação entre o uso patológico e aquele considerado normal. Isso ocorre pelo fato de a internet ser um serviço de frequente acesso, o que pode ocultar a dependência em diversas situações.² Nesse aspecto, cabe relativizar o diagnóstico entre as situações nas quais o indivíduo se favorece das tecnologias, de modo saudável, e as ocorrências de caráter prejudicial, em que o usuário não consegue mais controlar a necessidade de estar na internet e o tempo de uso. Mais importante do que o tempo que o usuário passa conectado é o que a internet representa para sua vida e como lida com ela, sendo que para dependência é necessário haver prejuízo na vida social, laboral ou acadêmica do indivíduo afetado.
Dependência tecnológica como um sintoma
Muitos estudos apontam para a relação da dependência de Internet e algumas comorbidades psiquiátricas, como: depressão e transtorno do humor bipolar, transtornos de ansiedade e TDAH.
Muitos clínicos defendem a tese de que as pessoas em momentos de angústia, depressão ou mesmo fuga se valeriam da realidade virtual como uma forma de enfrentamento ou de procrastinação das dificuldades da vida.³
Sendo assim, para cuidarmos da dependência tecnológica, precisamos cuidar desses outros transtornos associados. Quando observamos as pesquisas realizadas em vários países, percebe-se claramente que esse problema é um fenômeno global.
Moromizato e colaboradores⁴ argumentam que a presença de sintomas tanto ansiosos quanto depressivos pode ser gerada pelo mau uso da internet e/ ou redes sociais, ou os sintomas podem estar presentes e o uso desta representa somente um mecanismo de compensação. O aumento da depressão pode estar relacionado à maior utilização do tempo despendido na internet. No entanto, os autores não elucidam se a depressão precede essa dependência da internet ou se é uma consequência.
¹ MAZIERO, M. B; OLIVEIRA , L. A. Nomofobia: uma revisão bibliográfica. 2016
² Tumeleiro, L. F. et. al. Dependência de internet: um estudo com jovens do último ano do ensino médio. 2018
³ ABREU, C. N. et al. Dependência de Internet e de jogos eletrônicos: uma revisão. 2008
⁴ MOROMIZATO, M.S et. al. O Uso de Internet e Redes Sociais e a Relação com Indícios de Ansiedade e Depressão em Estudantes de Medicina. 2017
A Psicologia tem como ferramenta fundamental de trabalho o discurso falado, porém a escrita pode ser um recurso muito útil. Enquanto a fala é impossível de ser retomada por completo depois de emitida, a escrita permite uma reflexão diferente, visto que devido ao registro pode haver um releitura.
Pesquisas já apontaram que há uma diminuição biológica de componentes orgânicos ligados ao estresse, mudanças cognitivas através do treino da escrita e também mudanças emocionais, visto que a expressão de temas complexos e traumáticos ao longo do tempo permitia a ressignificação do vivido pelos sujeitos envolvidos. A expressão das emoções através da escrita oferece uma oportunidade para aumentar o insight, a capacidade de auto-reflexão, e a organização da perspectiva sobre os eventos.¹ A expressão emocional escrita melhora condições gerais de saúde física e mental, sendo associada à sensação de bem-estar e redução de níveis de estresse, sendo considerado um preventivo de doenças.
"As demandas por seriedade, competência e eficiência na vida do homem contemporâneo, principalmente por parte daqueles que vivem nas grandes cidades e precisam garantir seu sustento na 'batalha' diária pela própria sobrevivência, se tornam um verdadeiro 'massacre' ao qual somos todos submetidos. A principal perda que experienciamos neste processo é o esvaziamento do contato, a amortização das nossas sensações e emoções, um distanciamento das relações afetivas mais profundas e de nós mesmos. O preço que pagamos é deixar de sermos criativos e nos tornarmos meros repetidores de papéis."²
Para a Gestalt-Terapia, neurose é "fixação, repetição, perda da capacidade criativa, da disposição para a improvisação, para o novo. Tentativa de controle, de agarrar-se ao conhecido, medo do desconhecido"³. Neste sentido, a escrita entra como algo que permite também um resgate da criatividade. A própria Gestalt-Terapia foi concebida por pensadores e clínicos que eram envolvidos em disciplinas artísticas: poesia, música e dança, teatro.
Essa nova forma de expressão e contato pode gerar sensações de surpresa, deslumbramento e até mesmo de vergonha e estranhamento em relação ao que foi escrito, mas permite que a pessoa entre em contato com sua realidade de forma intensa e por um meio menos habitual do que a expressão verbal, por exemplo.⁴ Escrever sobre algo é recriar e situar esse algo num plano de sentido que é para a consciência.
Entretanto, é importante tomar um cuidado com a escrita terapêutica, se você não estiver em processo de psicoterapia. É importante que você tenha um suporte para lidar com o que aparecer no processo de escrita. Escrever por escrever, mexer em emoções difíceis de lidar sozinho pode promover a ruminação do pensamento, que inibe o desenvolvimento de estratégias adaptativas/criativas. A escrita terapêutica não deve ser desenvolvida como uma auto-ajuda, e não substitui o acompanhamento especializado com um profissional de Psicologia, devendo ser utilizada somente como uma ferramenta adicional.
¹ Sabrina Lima e Ivelise Fortim, A escrita como recurso terapêutico no luto materno de natimortos
² Patrícia Albuquerque Lima, Criatividade na Gestalt-terapia
³ Monica Botelho Alvim, Experiência Estética e corporeidade: fragmentos de um diálogo entre Gestalt-Terapia, Arte e Fenomenologia
⁴ Mariane Coimbra Silva; Eduardo Moura de Carvalho; Rafaela Dias de Lima, Arteterapia Gestáltica e suas relações com o processo criativo
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Escrita terapêutica
Psicóloga Estefanie Ribeiro
24 setembro
Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões — é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou:
“A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”.
Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse:
“Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Cummings escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”. [...] Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”:
“De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão — era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso — porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver — eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana.
Rubem Alves
Caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S.Paulo”, versão on-line, publicado em 26/10/2004.
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A complicada arte de ver
Psicóloga Estefanie Ribeiro
28 maio